O Gato Fantasma do Lago Otama, 1960
Tadahiko e Keiko são amantes que estão à beira de consumar o desejo de permanecerem juntos até quando o "para sempre" durar. À caminho da casa dos pais da moça, ambos acabam se perdendo próximos à um lago rodeado por um espesso nevoeiro; uma fina camada vermelho-sangue cobre uma ponta da superfície do lago. Desnorteados feito dois cabras-cegas, o terno casal tenta procurar uma maneira de sair de lá e chegar, antes do anoitecer, em seu destino. Mas algo de muito estranho parece acontecer: como se estivessem andando em círculos, Tadahiko e Keiko acabam voltando para o mesmo lago, onde a atmosfera agora está ainda mais lúgubre e assustadora demais para a frágil Keiko suportar; os ramos balouçam violentamente, o vento sopra de maneira sepulcral, enquanto o relâmpago, com sua tonalidade praxe, incide sobre eles. Tadahiko avista um gato preto e logo flerta com a lógica de que pode haver uma casa por perto, se há um animal doméstico por perto, ao menos um local onde eles possam passar a esdrúxula noite; Keiko, amedrontada até o último nervo, teme o gato preto. Não deseja ir no início, mas logo é puxada pelos braços nem tão fortes de Tadahiko.
O casal acaba encontrando uma casa abandonada. Notando que não há ninguém no local, Tadahiko decide olhar os fundos enquanto Keiko fica sentada na porta da frente o esperando com o coração na mão. Abrupta e minunciosamente, Keiko é acometida por um ruído - ao olhar para trás, o tal ruído é a porta se abrindo e, dentro da casa, uma velhinha, envolta por uma aura verde que a fita com os olhos cruéis. A jovem se assusta e, desesperada, corre. Tadahiko, ao encontrá-la, leva-a para dentro da casa, onde um pesadelo assustador acomete Keiko enquanto desacordada: Ao caminhar sobre a casa vazia e silenciosa e abrir uma porta, a mesma velhinha a fita. Quando ela tenta escapar, a senhora a manipula feito marionete com os dedos enrugados contorcidos. Ao acordar do sórdido pesadelo noturno adoentada e atormentada, Tadahiko a leva à casa do sacerdote.
O velho sacerdote diz à Tadahiko que Keiko está amaldiçoada pela "maldição do gato." A partir de então, a narrativa transmuta para um longo flash-back contando-nos sobre os antepassados de Keiko do período Edo: Yachimaru era um jovem guerreiro apaixonado por uma moça chamada Kozasa, mas os conflitos entre ambas as famílias eram como uma parede intransponível entre eles. Quando Yachimaru parte para a cidade, Gensai, pai de Kozasa, determinado a fazer com que a filha esqueça de vez o rapaz, a obriga se casar com um moço chamado Gorota. No meio tempo em que Yachimaru encontra-se na cidade, seu pai, a mando dos aldeões, vai ao magistrado pedir para que o mesmo diminua os impostos; mesmo sabendo que o magistrado é controlado pelo Gensai, ele tenta, mas em vão. Como se não bastasse, o magistrado ateia fogo em sua casa, a invade, mata sua filha e sua mãe; ao travar uma batalha com o grupo, ele morre no lago - a única sobrevivente é Tama, a gata. Ao retornar da capital, Yachimaru descobre que o magistrado matou sua família e acaba morto pelo mesmo, da mesma forma que o pai.
Dias depois, os mais estranhos acontecimentos cercam a pequena cidadezinha e as desgraças começam a acontecer nas famílias dos habitantes; o caos senta-se em sua poltrona e manipula os seres que, como marionetes sem cordas, começam a desgraçar a si mesmos. Kozasa fica louca; Gensai mata a mulher e a concubina; o chefe do magistrado mata o marido aporrinhante de Kozasa. A gata, nas noites mais soturnas e onde não há ninguém para assistir, é um bicho papão que se alimenta de tudo aquilo que avista; numa só noite, os assassinos são atirados no lago onde de maneira injusta mataram os guerreiros. Flash-back termina com o bicho papão tornando-se a gata Tama e morrendo. Tadahiko consegue terminar com a maldição dando um enterro digno à gata Tama, cujos ossos nunca puderam se decompor devido a terrível fúria da vingança. O casal consegue libertar-se e dirigir-se para casa dos pais de Keiko, livre das amarras da maldição que cerca o lago Otama.
Assumindo a responsabilidade de nos contar a origem de uma maldição moldada por um rancor que perdurou séculos, Yoshihiro Ishikawa apresenta um certo tipo de pesadelo noturno que nos faz acordar no meio da noite e não nos deixar mais dormir; furtivo até mesmo na fotografia, onírica, presentes sempre o vermelho-sangue para representar o fogo, sangue e violência e o verde radioativo para a aura dos mortos, O Gato Fantasma do Lago Otama não é lá um longa-metragem facilmente esquecível e, diga-se de passagem, é uma obra prima do terror oriental.
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