Fôlego, Kim Ki duk
Kim Ki duk é sul coreano e começou sua carreira já tarde aos
33 anos, como roteirista e diretor. É um
dos mais aclamados representantes da vanguarda cinematográfica da República da Coréia. O que eu mais admiro
em sua trajetória é o fato de ele ter vindo de uma família do proletariado. Ele
não tem sequer uma formação técnica. Um diamante bruto que se lapidou sozinho.
Em sua filmografia temos
verdadeiras obras-primas, reais tratados sobre a natureza humana, como o belo “Primavera,
verão, outono, inverno...e Primavera” e também o inesquecível “Casa vazia”.
Em “Fôlego” temos a história de uma mulher melancólica
chamada Yeon, que passa por problemas em seu casamento. Sua vida é oca e seu
olhar perdido. Assistindo diversas vezes no noticiário sobre o preso Jin, que
está no corredor da morte e já tentou repetidas vezes se suicidar, ela tem uma
inusitada vontade de ir visitar o desconhecido.
A fotografia transborda realismo, aquela velha simplicidade
em tons nublados e modestos.
Movimentação de câmera bem sutil, o que nos dá uma sensação de lentidão,
porém contraditoriamente tudo acontece de maneira abrupta.
E novamente, Kim Ki duk com o mínimo de diálogo consegue dizer
tudo. O cinema dele é como o teatro de
Antonin Artaud : “Do corpo pelo corpo com o corpo desde o corpo e até o corpo.”
Não existe nada forçado, é um silêncio comum e natural que vibra em nossas
mentes com centenas de palavras. Somos levados a tentar preencher as lacunas,
lemos as expressões e olhares dos personagens procurando as palavras não
ditas, aquelas soltas perdidas e quietas flutuando sobre a aura dos momentos. E
então a necessidade de compreender é tão grande que nos tornamos parte da
tragédia pela mágica da empatia. Todo
filme enigma é um presente bom. É tentando desvendar o segredo e problema do
outro que solucionamos o nosso próprio. E isso é válido também na vida. É um
longa passível de mais de uma interpretação, tudo depende da percepção de cada
um. Pode ser justificado do particular para o geral ou do geral para o
particular.
A poesia amena é um véu que envolve tudo. A pequena sala de
visitas da prisão, a ideia bonita tida por Yeon de encenar cada estação do ano
e cantar músicas alegres. O choro de olhos fechados de uma mulher que sente que
sua alma é como chumbo. Um beijo atrás de árvores falsas de outono. Tudo é
vermelho e amarelo. É de fôlego que os dois personagens precisam para continuarem
a arrastar suas vidas, ou no caso do preso no corredor da morte, apenas dias. Quanto
tempo consegue ficar sem respirar? É uma analogia poética sobre a vida. “Fôlego”
tem uma aura única que se agarra a nós durante e após o filme.
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