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Natureza e Sensibilidade

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Yasunari Kawabata, escritor japonês, que queria ser pintor quando criança, com histórico de lástimas e angústias na infância, pelas constantes perdas de familiares, fez a melhor escolha quando decidiu traduzir sua maneira quase abstrata e primor de delicadeza de ver o mundo, em palavras, flutuantes em sua magnificência nos seus contos e livros. Fez a melhor escolha, a de pintar com palavras um oceano de emoções.

Kawabata ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1968, o primeiro no Japão a conquistar isso.


Vítima de surtos depressivos, em um fatídico dia de 1972, escolheu descosturar sua alma deste mundo, suicidando-se. Mas nos deixou obras singulares, para que nos devotássemos a analisar a psiquê turva das mulheres, venerando seus sabores e belezas escondidos ou pregados em seus rostos.



''NUVENS DE PÁSSAROS BRANCOS''

'' E sobre o céu deslumbrante, recortava-se a silhueta sombria do cimo franjado das velhas árvores, em cujos ramos ainda escorriam os raios duma luz ofuscante que o obrigou a fechar os olhos lassos. Detrás de suas pálpebras, agora, todo o ouro do céu daquela tarde renasceu. E nesse céu julgou ver por instantes brincar os mil pequenos pássaros brancos dum certo furochiki rosa.''


Fora minha primeira leitura de Kawabata. Como não se entregar a empatia de suas mulheres, personagens deste livro? Kawabata, como já era de se esperar de um oriental, celebra a natureza e a sensibilidade em suas palavras. Sua poesia sempre faz menção a natureza, nos descrevendo emoções a partir de estações, nos movendo para dentro de cenários ricos em detalhes naturais, ricos em magia quieta, belos sem necessidade de adornos.  O livro é sobre o jovem Kikuji, o fantasma do pai dele, e as mulheres que foram suas amantes.


A diferença em relação aos livros ocidentais já é sentida logo de início. As palavras de Kawabata são plácidas, de começo quase nos causam sono, mas no decorrer dos livros, elas parecem cantar, e então ficamos ali, observando seu som, sua coreografia, sem querer fechar os olhos.


É um livro sobre solidão e saudade. Sobre mágoa e dormência. Sobre momentos efêmeros e a substância cálida emitida deles, que parece eterna. Frágil e simples, um livro não de amor, sobre amor, sobre a dificuldade de superação de certos acontecimentos na vida. Sobre acontecimentos que continuam ali, dormindo em nós, independente da mudança do vento ou do tempo.


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