Nadja, de André Breton
Um dos impulsionistas do movimento surrealista, André
Breton, comunista e entusiasta fiel à
arte, escreve ''Nadja'' em 1928. Neste pano de fundo, a arte em geral já
estava sob novo contexto de interiorização.
''Nadja'' é uma
mescla de diário, fragmentos poéticos, abordagens comunistas, convulsões entre real e irreal e ainda um
pouco de existencialismo. Breton, nos
conduz em uma literatura diferente da que conhecemos, com palavras que advogam
um olhar díspar sobre a vida.
É uma história real, onde Breton conhece uma mulher que
quebra o significado da palavra linear.
Nadja, que distorce e embrama, que flutua ideias e as costura, uma
contradição necessária.
Este é o tipo de livro, que vai amadurecendo em nós, depois
de lermos, aos poucos. Necessário
talvez, que se leia mais de uma vez.
Passível é claro, de muitas interpretações.
Nadja é uma das personagens mais intrigantes que já conheci.
Uma das personagens que mais quis desvendar.
Seu rosto na minha mente enquanto lia, era terroso, um vulto, sua boca
um enigma. Os olhos, graças a uma fotografia no livro, pude admirar, ''Olhos de
avenca'', tantos mistérios guardavam estes olhos, puro desatino.
O relacionamento entre Breton e Nadja é quase dormente, nós
pouco o sentimos. Não que seja pouco verdadeiro ou instigante, mas sim algo
simplista e ao mesmo tempo incógnito. Inclusive, Breton menciona em certa parte
do livro que se sente mais perto das coisas próximas a Nadja, do que perto da
própria Nadja. De fato, devo concordar com ele, Nadja é o tipo de pessoa,
difícil de se sentir conectado, pois em volta dela há laços alienados
exclusivos dela, que interagem com ela, um espetáculo em que ela é suprema. Ela
mesma se conecta com tanta coisa, que é difícil abrir espaço no universo dela
para mais alguém.
E as ilustrações?
Mais belas impossível. Tive sonhos com os desenhos de Nadja. Seus desenhos
surreais me facilitaram de buscar um
diagnóstico para ela na psicologia analítica. É claro que sofreu um trauma
desconhecido, que nem você, nem eu, um dia saberemos. Sei que ela é uma
tempestade por dentro.
Eu poderia escrever muito mais, ficar horas aqui, expondo
todas as minhas visões deste livro labirinto. Mas, sem mais delongas, Nadja é
um livro que vale muito a pena. Do tipo de livro que lhe ajuda a se construir, a
partir da desconstrução.
''Não passo de
um átomo que respira no canto de seus lábios ou que expira. Quero tocar a
serenidade com o dedo molhado de lágrimas.''
0 comentários