Felizes Juntos, de Wong Kar Wai.
O longa nos traz uma deliciosa história sobre um casal gay
que viaja para a Argentina para vislumbrar as cataratas do Iguaçu. Porém, o
casal vive em constante conflito, se separa logo no início da viagem. Logo
depois reatam, mas permanecem as bagunças emocionais.
Tudo começa com a fotografia em preto e branco, por vezes
suja e outras com um contraste em cor que remete ao estilo hollywoodiano anos
50. Belos enquadramentos por detrás dos vidros de cafés ou bares, típico de Kar
Wai. Já estava sentindo falta das cores
vivas de tons orientais e quentes dos longas dele, então como se ele me ouvisse
pedir por elas, é na cena clássica dentro de um táxi, quando há o deitar no
ombro do outro, esta ternura que permeia em quase todos os seus filmes, é
quando temos o brotar das cores. Como uma analogia, por intermédio do
significado das cores, é que percebemos ali, que o antes era feito de dormência
e saudade enquanto ambos estavam separados, tudo preto e branco. E aquele
reencontrar, recomeçar no táxi, foi o suficiente para trazer todas as cores de
volta.
Então navegam nos fotogramas uma poesia, que emerge em cada
plano. Uma luminária com pintura das cataratas, objeto-símbolo deste amor
tempestuoso deles. Um apartamento cubículo, as paredes desgastadas, apenas uma
velha cama de solteiro, um cheiro de mofo que paira. Um tango em uma cozinha
alva, de pisos velhos.
Entre os dois personagens brigas animais, mas também
cumplicidade. Um retrato de um casal comum, que é acometido pela maldição da
convivência humana, tarefa tortuosa. Então
temos o amor e suas facetas. Yin e Yang,
fumaça e nitidez. Duas pessoas que
nasceram para se mesclar. Duas pessoas que não nasceram para se mesclar. Será
mesmo amor? Ou só a tendência que o ser humano tem de procurar manter tudo por
mais ruim que esteja , porque odeia mudanças? Ou é amor sim, porque o amor é
este infindável paradoxo, em que ateamos algo ao fogo mas desesperadamente
puxamos de volta, afagando este algo no nosso peito?
Felizes juntos, infelizes juntos. Infelizes distantes. Uma
relação en – uma ligação como um carma que dura a vida inteira, este tipo de
coisa que sempre acomete alguns de nós.
Por mais que se acabe, nunca se perde. Uma memória latente.
‘’Acontece que no final, pessoas solitárias são todas
iguais.’’
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