O Homem Atlântico, Marguerite Duras.
Madame Duras, com um acervo de produção artística que
destila magnificência, sempre nos atordoando com seu brilhantismo poético e
psicodrama, tem em sua patente 35 romances, quinze peças de teatro e mais de quinze filmes e roteiros de cinema.
A mulher é um vulcão de lirismo. Sua obra pintada em
verdades, por ser em demasia autobiográfica, nos conduz à uma aura fugaz e
terna.
Fiz a leitura de ''O Homem Sentado no Corredor e O Homem
Atlântico'', são dois contos em um só
livro. Decidi resenhar apenas o segundo conto por ter sido o que mais me
envolveu.
''Você e o mar, vocês são um só para mim, um só objeto.''
O Homem Atlântico é um instante, uma hora, um minuto, ou
segundo. Ele é o pretérito perfeito. Ele
é o amor encerrado em músculo, pele e osso. Mas ele também é miragem. É
memória. Um fantasma que se foi. Se foi? Ou é gerúndio? Está indo ainda? É uma
espécie de ciclo do adeus? Uma repetição
dolorosa e ao mesmo tempo dormente.
Ele é o azul infinito, é o oceano. Uma tragédia calada. Ele também é o cinema. É feito de fotogramas. Linguagem visual. É o cinema dentro da literatura, a literatura dentro do tempo.
Marguerite Duras com suas palavras em homeostasia poética, nos
faz transcender.
Uma tênue linha entre passado e presente. Um ensaio sobre
partida, ausência. Um ensaio sobre o que fica, o que muda, e o que nunca
mudará. Um grito dentro da casa à beira-mar, atrás das vidraças, um grito em
frente as ondas, um grito dentro do profundo oceano de nós mesmos. Ou talvez,
não um grito, um choro, uma melodia. Um delírio, um evento onírico e em contra partida sólido também. Um emudecer, um desabrochar, uma mágoa lapidada, uma partitura sobre a dor.
'' Permanecem contudo em torno de seus olhos, sempre, essas
planícies que circundam o olhar e essa existência que lhe anima o sono.
Permanece também essa exaltação que me vem ao não saber o
que fazer disto, deste conhecimento que tenho de seus olhos, das imensidões que
seus olhos exploram, ao não saber o que escrever, o que dizer e o que mostrar
de sua insignificância original. Sei apenas isto: que só me resta suportar esta
exaltação a respeito de alguém que estava aqui, alguém que não sabia que vivia
e que eu sabia que vivia.''
Me vi inebriada, apreciando cada pedaço desta ínfima
história. O fim do amor, uma alma já magra, uma luta contra o apagão do
esquecimento, do tempo. Uma daquelas despedidas que cada um de nós sofremos
uma vez na vida, e que insistirá em
existir guardada em nós através dos anos.
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